Produção agrícola familiar utilizando rejeito da dessalinização da água salobra como suporte hídrico Finalista/Vencedor:Vencedor
Status:Concluído
Permanente:Sim
Ano de Início:2014
Conclusão:2017 Responsável: Universidade Federal Rural do Semi-Árido Telefone: (84) 3317-8200 E-mail: nildo@ufersa.edu.br Edição: Prêmio ANA 2017 Categoria: Pesquisa e Inovação Tecnológica Cidade/UF: mossoró/RN Abrangência: Regional Objetivo: Avaliar a sustentabilidade econômica e socioambiental do uso agrícola do rejeito da dessalinização da água salobra em um sistema integrado de produção, tendo em vista os riscos ambientais, em detrimento da soberania alimentar das comunidades aonde se tem instaladas as estações de tratamento de água por osmose reversa. Público-alvo: Agricultores familiares Ações Desenvolvidas:
A produção de alimentos no semiárido do Brasil, por ser uma região afligida pela escassez de água, deve está fundamentado em princípios e técnicas de convivência com a seca, com ênfase no uso racional e aproveitamento de fontes alternativas dos recursos hídricos disponíveis. O ‘Programa Água Boa’ do Governo Federal instalou, nas áreas rurais com problemas de escassez, estações de tratamento de água por osmose reversa, a fim de obter água potável para as famílias por meio da dessalinização das águas salinas e salobra de poços artesianos e, ainda, dotar estas de capacidade produtiva. Entretanto, no processo de dessalinização se gera, além da água potável, um rejeito altamente salino e de poder poluente elevado. Porém, o rejeito gerado não recebe qualquer tratamento ou destinação adequada, sendo despejado diretamente no solo e no curso de água, causando poluição ambiental. Considerando a quantidade de estações de tratamento instaladas na região nordeste e a limitação da produção agrícola devido à escassez de água, fazem-se necessários estudos que quantifiquem o potencial de utilização agrícola desta fonte hídrica. Um projeto piloto visando à produção agrícola familiar utilizando o potencial hídrico do rejeito da dessalinização foi experimentado na Comunidade Serra Mossoró e no Projeto de Assentamento Santa Elza, localizados no município de Mossoró, RN. Na fase exploratória da Pesquisa-Ação, foram realizadas oficinas de sensibilização e mobilização das famílias, em que se abordaram questões relacionadas às ações e os benefícios do projeto, possibilitando a identificação de atuação das famílias no projeto pelo método da pesquisa participativa. Nesta fase, também foram realizados cursos de formação sobre a criação de tilápias e hortas orgânicas, tendo como público alvo os agricultores(as) familiares envolvidos na pesquisa.
O projeto foi executado por meios de ações integradas e sustentáveis, as quais foram: a água do poço era bombeada até a estação de tratamento para a obtenção de água potável por osmose reversa, beneficiando as famílias; o rejeito salino gerado no processo de dessalinização era bombeado para 2 viveiros de piscicultura construídos para a criação de tilápia (espécie tolerante à água salgada), beneficiando as famílias com fonte de proteína; o efluente da piscicultura, enriquecido em matéria orgânica, era armazenado em tanques de irrigação construídos que, posteriormente era utilizado na irrigação de plantas forrageira e hortas comunitárias e; finalmente, a forragem produzida, com teor de proteína entre 15 e 18%, foi utilizada para a engorda de caprinos e/ou ovinos que, juntamente como a produção de tilápia e hortaliças garantia a segurança alimentar e nutricional das famílias e, ainda a o aumento da renda com a venda do excedente, fechando o sistema de produção ambientalmente sustentável. A metodologia aplicada na construção deste projeto possibilitou o diálogo e a participação democrática das famílias beneficiadas sem causar insatisfação das mesmas; deste modo, houve a transferência da tecnologia social e, consequentemente, a sua apropriação desta pelos agricultores. Com relação a viabilidade economia do projeto, não há alta relação custo benefício no período de 2 anos de avaliação, porém pode ser viável com prazo maiores. Entretanto, há benefícios socioambientais da tecnologia social implementada nas duas localidades, pois, além de evitar a contaminação ambiental devido À disposição inadequada do rejeito da dessalinização, garante a segurança alimentar e nutricional das famílias com, a possibilidade de venda do excedente. As ações propostas colaboram com as políticas de combate a desertificação do nordeste e, principalmente com a gestão das águas, promovendo seu uso sustentável na agricultura do semiárido; podendo esta experiência ser replicadas em outras comunidades que dispões de estações de tratamento de água salobra de salinas de poços. Resultados:
4.1 Criação de tilápias em viveiros utilizando água de rejeito salino;
4.1.1 Análise técnica e produtiva Os parâmetros físico-químicos monitorados durantes a condução dos experimentos com as tilápias estão dentro das faixas normais para o desenvolvimento da espécie. A taxa de conversão alimentar obtida foi de 1,5:1; considerada alta de acordo com Lovshin (1997) que, afirmar ser a obtenção de uma alta taxa de conversão alimentar fundamental para que o sistema intensivo de criação de tilápias seja economicamente viável. A comercialização das tilápias deu-se por meios do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA);
4.1.2 Viabilidade econômica da piscicultura A viabilidade econômica da piscicultura foi feita a partir da análise do fluxo de entrada e saída financeira do projeto supracitado, utilizando um período financeiro de dois anos. Inicialmente, foi investido um valor de R$ 72.112,51, por meio da compra de materiais permanentes e de consumo, bem como, investimento com serviços terceirizados que viabilizaram a escavação dos viveiros de piscicultura e tanque receptor de efluentes. Observa-se que, no primeiro ano, o cultivo de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) com rejeito salino rendeu em média 620,00 kg, sendo comercializado por comercializado por R$ 12,00 kg-1, gerando uma receita bruta de R$ 7.440,00. Já no segundo ano, obteve-se uma produção menor de 600 kg também comercializada por R$ 12,00, gerando uma receita bruta de R$ 7.200,00, sendo o total da receita bruta dos dois anos de R$ 14.640,00;
4.2 Horta comunitária utilizando rejeito salino como suporte hídrico;
4.2.2 Produção de hortaliças A implantação da horta na comunidade teve grande êxito, especialmente por que desmistificou a cultura dos moradores de que rejeito da dessalinização da água era inadequado para qualquer fim e, com isso, despertou a curiosidade de cultivá-las usando o rejeito salino. O altos rendimentos das hortaliças (coentro, alface, beterraba, cebolina, rúcula e couve) irrigadas com efluente da piscicultura observados no presente estudo devem-se, provavelmente, ao fato da presença de nutrientes no efluente – enriquecido pelos dejetos dos peixes e raçoes fornecida ter estimulado o crescimento vegetativo das plantas devido à melhoria da fertilidade do solo, especialmente a incorporação de matéria orgânica (Andrade Filho et al., 2013). Esses benefícios podem, inclusive, ter reduzido os efeitos deletérios do efluente sob o solo e as plantas causados pela elevada CE e a toxidez de íons cloreto e sódio. Além disso, os resultados da produção de hortaliças são satisfatórios, já que há um grande aproveitamento do potencial hídrico do rejeito salino, comparado a descartá-lo no solo, levando em consideração, principalmente, a dificuldade de água para utilização na agricultura, em uma região com recursos escassos;
4.3 Cultivo de mudas de essências florestais irrigadas com rejeito salino Constata-se que a tolerância à água de rejeito ou de efluente depende da espécie (Angicos, tamarindos, sabiá e mulungu), embora todas as espécies estudadas tenham se desenvolvido satisfatoriamente, apesar das condições de alta salinidade;
4.4 Cultivo de erva sal irrigada com rejeito da dessalinização por osmose reversa Aos três meses de cultivo após a rebrota do primeiro corte, a produtividade da erva sal irrigada com rejeito salino atingiu 5.689,62 e 1.624,00 kg ha-1 de massas de matérias fresca e seca, respectivamente, na condição de umidade do solo à capacidade de campo (testemunha). Extrapolando estes valores de produtividade para um ano de cultivo tem-se 22,82 e 6,49 Mg ha-1 ano-1 de massas de matérias fresca e seca, respectivamente. Considerando a somatória dos sais extraídos pela planta (folhas + caule), a quantidade de sais média extraídos foi de 971,21 kg ha-1 ano-1, ou seja, quase 1 tonelada de sais seriam extraídos do solo nas condições deste experimento pela erva sal. Principais Números:
- O uso de rejeito salino não interferiu na produção e criação de tilápias, sendo uma alternativa para dispor este resíduo em localidades beneficiadas com estações de tratamento de água salina e salobra;
- O cultivo de tilápias com rejeito salino rendeu em média 620,00 kg de peixes, gerando uma receita bruta de R$ 14.640,00 em dois anos de cultivo;
O efluente da piscicultura melhorou a fertilidade do solo e inibiu os efeitos deletérios da alta salinidade sob o crescimento das hortaliças, resultando no aumento da produtividade das hortaliças orgânicas;
- A produção de mudas de essência da caatinga e a produção de hortaliças orgânicas utilizando o rejeito salino são viáveis para o fortalecimento da agricultura familiar com maior segurança ambiental;
- A erva sal extraiu do solo cerca de 900 kg de sais por ha-1 ano-1, comprovando o seu poder de fitoremediação dos ambientes salinos, podendo ser utilizada para evitar a salinização das terras irrigadas com rejeito salino bruto ou após utilização em viveiros de criação de tilápias (efluente);
- As ações da pesquisa apresentaram possibilidades técnicas do uso ‘nobre’ do rejeito salino e apontam a viabilidade desse processo para a produção agrícola familiar, com vista à geração de renda em comunidades rurais;
- As ações das pesquisas colaboraram significativamente com a gestão participativa das águas residuárias e com a potencialização da geração de renda e de alimentos, por meio da inovação e da diversidade de atividades que poderão ser desenvolvidas pelas famílias, além de contribuir para a conservação ambiental de dois importantes recursos naturais: o solo e a água;
- A tecnologia social implementada é uma alternativa de garantir a segurança alimentar e nutricional dos agricultores familiares do semiárido e pode ser replicada à outras comunidades;
- O aproveitamento do potencial hídrico do rejeito salino em comunidades rurais além de diminuir impactos ambientais tem um papel importantíssimo no auxilio da renda familiar . A tecnologia social aplicada no assentamento Santa Elza no e Serra Mossoró apresentou resultado considerável comparado ao simples descarte do rejeito no solo, já que houve o aproveitamento do potencial hídrico do rejeito salino e conseguiu gerar meios de obtenção de renda e fonte de alimentos, tornando o beneficio socioambiental e economico bastante notório;
- Houve também benefícios e avanços na formação de recursos humanos na Instituíção executora do projeto, uma vez que os discentes e docentes tiverão a oportunidade de trocar saberes com os agricultores e, além disso, foram produzidos algum trabalhos de conclusão de curso de graduação e dissertações de mestrados;
Com relação ao número de famílias em cada comunidade beneficiada, registam-se 44 famílias associadas no Projeto de Assentamento Santa Elza e 34 na comunidade rural Serra Mossoró. Região Hidrográfica: Outros Prêmios: - Este projeto foi selecionado pelo Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) no Prêmio Mandacaró II em 2014, possibilitando a sua Execução. |